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Contratos em Propriedade Intelectual: licenciamento de marcas, patentes, desenhos industriais e direitos autorais

Contratos em Propriedade Intelectual: licenciamento de marcas, patentes, desenhos industriais e direitos autorais

18/09/2025

Autores

Flavia Telles - Associada

O licenciamento é uma das formas mais interessantes e estratégicas de aproveitar ativos de propriedade intelectual. Por meio dele, o titular autoriza terceiros a utilizarem uma marca, patente, desenho industrial ou obra protegida por direitos autorais — sem abrir mão da titularidade. Diferente da cessão, que transfere o ativo de forma definitiva, o licenciamento preserva o controle do titular e abre portas para parcerias comerciais, expansão de mercado e transferência de tecnologia. 

Mas para que essa ferramenta funcione bem, é essencial que o contrato seja claro, completo e juridicamente sólido. Omissões ou cláusulas genéricas podem gerar conflitos, prejuízos financeiros e até uso indevido do ativo. 

Delimitação do escopo da licença 

Um dos pontos mais sensíveis em contratos de licenciamento é a delimitação do escopo da licença. É fundamental que o contrato defina com precisão a duração do licenciamento, o território em que o ativo poderá ser explorado e a natureza da autorização concedida — se exclusiva, não exclusiva ou restrita a determinados canais de distribuição ou segmentos de mercado.  

A ausência de clareza nesses parâmetros pode gerar interpretações divergentes e conflitos entre as partes. Por exemplo, se o licenciado utilizar a marca fora do território acordado, isso pode causar prejuízos ao titular e comprometer a relação contratual. Quanto mais detalhado e objetivo for o contrato nesses aspectos, maior será a segurança jurídica e a previsibilidade da parceria. 

Remuneração e critérios de performance 

Outro aspecto essencial é a definição das condições econômicas do contrato. O valor da licença, a forma de pagamento e a periodicidade da remuneração devem ser estabelecidos com objetividade. Existem diferentes modelos de remuneração, como o pagamento único (lump sum), royalties periódicos ou remuneração por unidade licenciada, e a escolha deve refletir tanto a natureza do ativo quanto o modelo de negócio adotado pelas partes.  

Além disso, é recomendável incluir metas de desempenho, cláusulas de volume mínimo ou indicadores de qualidade, que ajudam a alinhar os interesses do titular e do licenciado, incentivando o uso ativo e estratégico do ativo licenciado. A ausência de critérios objetivos compromete a capacidade de fiscalização e dificulta a cobrança em caso de inadimplemento. 

Mecanismos de fiscalização e penalidades 

Para proteger o valor e a integridade do ativo licenciado, é importante que o contrato preveja mecanismos de fiscalização. Relatórios periódicos, auditorias, visitas técnicas e exigência de aprovação prévia de materiais promocionais são exemplos de ferramentas que permitem ao titular acompanhar o uso do ativo e prevenir desvios contratuais. Essas cláusulas também funcionam como instrumentos de dissuasão de condutas irregulares e fortalecem a posição do titular na eventual necessidade de aplicar penalidades, suspender o contrato ou buscar reparações. Ignorar essa dimensão do contrato significa enfraquecer a proteção do ativo — inclusive perante terceiros — e aumenta o risco de perda de receita ou de impacto negativo na reputação da marca ou tecnologia licenciada. 

Do ponto de vista do licenciado, os mecanismos de fiscalização previstos no contrato também são relevantes na medida que oferecem segurança jurídica, clareza sobre os limites da licença e proteção contra acusações indevidas de descumprimento. Eles também ajudam a organizar processos internos, garantir conformidade e preservar a exclusividade e a reputação do ativo licenciado. Além disso, fortalecem a confiança na relação contratual ao estabelecer regras claras e previsíveis para ambas as partes. 

O registro no INPI: publicidade e segurança 

O contrato de licenciamento de marcas, patentes, desenhos industriais e programas de computador deve ser registrado no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) para que tenha eficácia plena perante terceiros. Esse registro garante publicidade legal e evita que terceiros aleguem desconhecimento da existência da licença. Na prática, a ausência de registro pode gerar situações em que um terceiro celebre negócio com o titular sem saber que os direitos de uso já estavam concedidos a outro licenciado, criando um ambiente de insegurança jurídica e potencial litígio. O registro, portanto, não é apenas uma formalidade, mas uma medida de proteção importante para todas as partes envolvidas. 

Desafios comuns e pontos de atenção 

Além dos cuidados contratuais, o licenciamento envolve desafios práticos que exigem atenção contínua. Um dos principais é a existência de contratos desatualizados, que não acompanham mudanças na estrutura do negócio, na legislação aplicável ou nas estratégias comerciais das partes. Isso pode gerar insegurança jurídica, dificultar a execução do contrato e abrir espaço para disputas. 

A gestão de múltiplos licenciados também representa um desafio relevante. Sem um controle rigoroso, pode haver sobreposição de direitos, concorrência entre licenciados em territórios ou canais semelhantes, e perda de exclusividade — o que compromete o valor comercial do ativo e a confiança na relação contratual. 

Em operações internacionais, o cenário se torna ainda mais complexo. É necessário considerar tratados multilaterais e legislações locais de propriedade intelectual, além de regras específicas sobre registro, tributação e validade territorial da licença. A ausência de harmonização entre os sistemas jurídicos pode gerar lacunas na proteção dos direitos e dificultar a execução do contrato em diferentes jurisdições. 

Também são frequentes os conflitos relacionados a cláusulas de exclusividade, metas comerciais não atingidas ou uso indevido do ativo, especialmente quando o contrato não prevê mecanismos claros de fiscalização, penalidades e resolução de disputas. A falta de previsibilidade nesses pontos pode levar a litígios demorados e prejudicar a continuidade da parceria. 

Esses riscos podem ser mitigados com revisão periódica dos contratos, alinhamento estratégico entre licenciante e licenciado, e uma estrutura jurídica bem definida, que contemple tanto os aspectos comerciais quanto os regulatórios da operação. 

Considerações finais 

O licenciamento é uma ferramenta poderosa para gerar valor, ampliar mercados e explorar ativos de propriedade intelectual de forma estratégica. Mas sua eficácia depende diretamente da qualidade do contrato firmado entre as partes. Um contrato bem estruturado permite que o titular mantenha o controle sobre seus ativos, proteja seu valor econômico e reputacional, e que o licenciado explore os bens de forma segura, alinhada com os objetivos comerciais da parceria. Ao investir em um contrato claro, completo e adaptado à realidade do negócio, as partes minimizam riscos e promovem relações de confiança duradouras. 

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